SOBRE O PROJETO:

Trata-se de um projeto em que várias plataformas se juntam para a construção de material áudio-visual, plástico e textual, que se integrarão dentro de um blog na internet, com acesso aberto. O material audiovisual – curtas que se entrelaçam montando um quebra-cabeças de episódios – também está destinado a festivais, mostras e outros meios . (Leia mais em "Proposta-Base")

Obra Aberta: Todos são convidados a enviarem textos, idéias, referencias, fotografias, vídeos, que possam compor o material final.

Para leerlo en castellano: http://proyectoviajeros.blogspot.com

POSTAGENS:

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A LINHA

'Pára! Pára! Pára!
'Que foi?'
'Pára porra!'



'Eu acho que eu vi uma linha'


____________________

terça-feira, 25 de agosto de 2009

IT'S A LONG ROAD



"It's a Long Way", Caetano Veloso
Disco: "Transa" (1972)

As Cidades Invisíveis

-- Os outros embaixadores me advertem a respeito de carestias, concussões, conjuras; ou então me assinalam minas de turquesa novamente descobertas, preços vantajosos nas peles de marta, propostas de fornecimento de lâminas adamascadas. E você? -- o Grande Khan perguntou a Polo:-- Retornou de países igualmente distantes e tudo que tem a dizer são os pensamentos que ocorren a quem toma a brisa noturna na porta de casa. Para que serve, então, viajar tanto?


-- É noite, estamos sentados nas escadarias do seu palácio, inspire um pouco de vento - respondeu Marco Polo. -- Qualquer país que as minhas palavras evoquem será visto de um observatório como o seu, ainda que no lugar do palácio real exista uma aldeia de palafitas e a brisa traga um odor de estuário lamacento.

-- O meu olhar é de quem está absorto e medita, admito. Mas e o seu? Você atravessa arquipélagos, tundras, cadeias de montanhas. Seria melhor nem sair daqui.

O veneziano sabia que, quando Kublai discutia, era para seguir melhor o fio de sua argumentação; e que as suas respostas e objeções encontravam lugar num discurso que ocorria por conta própria na cabeça do Grande Khan. Ou seja, entre eles não havia diferença se questões e soluções eram enunciadas em alta voz ou se cada um dos dois continuava a meditar em silêncio. De fato, estavam mudos, os olhos entreabertos, acomodados em almofadas, balançando nas redes, fumando longos cachimbos de âmbar.

Marco Polo imaginava responder (ou Kublai imaginava a sua resposta) que, quanto mais se perdia em bairros desconhecidos de cidades distantes, melhor compreendia as outras cidades que havia atravessado para poder chegar lá, e reconstituía as etapas de suas viagens, e aprendia a conhecer o porto de onde havia zarpado, e os lugares familiares de sua juventude, e os arredores de casa, e uma pracinha de Veneza em que corria quando era criança. Neste ponto, Kublai Khan o interrompia ou imaginava interrompe-lo ou Marco Polo imaginava ser interrompido com uma pergunta como:-- Você avança com a cabeça voltada para trás? -- ou então: -- O que você vê está sempre às suas costas? -- ou melhor: -- A sua viagem só se dá no passado?Tudo isso para que Marco Polo pudesse explicar ou imaginar explicar ou ser imaginado explicando ou finalmente conseguir explicar a si mesmo que aquilo que ele procurava estava diante de si, e, mesmo que se tratasse do passado, era um passado que mudava à medida que ele prosseguia a sua viagem, porque o passado do viajante muda de acordo com o itinerário realizado, não o passado recente ao qual cada dia que passa acrescenta um dia, mas um passado mais remoto. Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos.Marco entra numa cidade; vê alguém numa praça que vive uma vida ou um instante que poderiam ser seus; ele podia estar no lugar daquele homem se tivesse parado no tempo tanto tempo atrás, ou então se tanto tempo atrás numa encruzilhada tivesse tomado uma estrada em vez de outra e depois de uma longa viagem se encontrasse no lugar daquele homem e naquela praça. Agora, desse passado real ou hipotético, ele está excluído; não pode parar; deve prosseguir até uma outra cidade em que outro passado aguarda por ele, ou algo que talvez fosse um um possível futuro e que agora é o presente de outra pessoa. Os futuros não realizados são apenas ramos do passado: ramos secos.

-- Você viaja para reviver o seu passado? -- era, a esta altura, a pergunta do Khan, que também podia ser formulada da seguinte maneira -- Você viaja para reencontrar o seu futuro?E a resposta de Marco:

-- Os outros lugares são espelhos em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e o que não terá.






"As Cidades Invisíveis", Ítalo Calvino.


Enviada por Carolina Castanho

REGISTRO DE VIAGEM - CAMPO DE VISÃO / FOTOS

Barcos



Fotos: Lorena Pazzanese





Fotos: Camila Maluhy



Fotos: Mariana de Mello

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

CAMPO DE VISÃO / Super8

SOBRE OS DOIS AMIGOS VIAJANTES:


Fragmento de "On The Road", de Jack Kerouac.


Aí eles iniciaram a coisa deles. Sentaram sobre a cama com as pernas cruzadas e olharam firme um para o outro. Eu me joguei numa cadeira próxima e observei a cena inteira. Começaram com um pensamento abstrato, discutiram sobre ele; recordaram-se de alguma outra idéia abstrata que havia sido esquecida no decorrer dos acontecimentos; Dean se desculpou, mas prometeu que poderia relembrar a cena, até com gravuras, se preciso.

Carlo disse: "E justamente quando passávamos por Wazee, eu queria te dizer o que tinha achado a respeito do teu acesso de loucura por causa do autorama e nesse exato instante, lembra, você apontou para aquele velho vagabundo com as calças frouxas e disse que ele era igual ao seu pai?"

"Sim, sim, claro que me lembro; e não só isso, mas também que aquilo foi o começo de uma tremenda viagem minha, algo realmente louco, que eu precisava te contar, e havia esquecido, mas agora você acaba de me relembrar..." e duas novas questões tinham nascido. Eles as analisaram com atenção. Então Carlo perguntou se Dean estava sendo honesto, mais especificamente se ele estava sendo honesto consigo mesmo, no fundo da alma.

"Por que você levantou essa questão outra vez?"

"Este é o último detalhe que quero saber..."

"Mas você está escutando, caro Sal? Você que está sentado aí. Vamos perguntar ao Sal. Que será que ele tem a dizer?"

E eu disse: "Esse último detalhe é inatingível, Carlo. Ninguém jamais consegue atingir esse último detalhe. Mas continuamos vivendo na esperança de alcançá-lo de uma vez por todas".

"Não, não, não. Você está dizendo uma bobagem completa, idéias românticas e refinadas de Wolfe", contestou Carlo.

E Dean disse: "De qualquer forma foi isso que quis dizer. Mas vamos deixar Sal ter suas próprias idéias. E, na verdade, você não acha, Carlo, há uma certa dignidade na maneira com que ele está sentado ali, apenas nos curtindo, esse maluco cruzou o país inteiro - o velho Sal não quer falar, não vai dizer nada".

"Não é que eu não vá falar", protestei. "Simplesmente não sei o que vocês estão pretendendo e onde querem chegar. Só sei que isso é demais pra qualquer cabeça."

"Você só diz coisas pessimistas."

"Então o que vocês estão querendo fazer?"

"Diga pra ele."

"Não, diga você."

"Não há nada a ser dito", eu disse e ri. Estava com o chapéu de Carlo. Puxei-o sobre meus olhos. "Quero dormir", falei.

"Pobre Sal, sempre querendo dormir." Me mantive calado. Eles recomeçaram, "Quando você me pediu emprestado aquele troco pra completar a conta daquela galinha assada..."

"Não cara, foi pro chili. O Texas Star, lembra?"

"Eu estava confundindo com terça-feira. Quando você me pediu emprestado, aquele dinheiro, você disse, escute bem, você disse 'Carlo, esta é a última vez que me aproveitarei de você', como se quisesse insinuar que eu tinha concordado que já era hora de parar com esse abuso."

"Não, não, não, não quis dizer nada disso - agora escute aqui, meu caro amigo, vamos rememorar tudo, se é que você consegue, voltando até aquela noite em que Marylou estava chorando lá no quarto e quando, ao me virar pra você, revelando meu ar de sinceridade postiça, quer dizer, através desta representação, eu demonstrei que... mas peraí, não é nada disso."

"Claro que não é nada disso. Acontece que você esqueceu. Mas vou parar de te acusar. Sim é isso o que eu tenho a dizer..." E mais e mais a noite afora prosseguiram falando desse jeito. Na aurora, eu os espiei. Estavam tentando elucidar o último assunto da manhã.

[...]

terça-feira, 18 de agosto de 2009

CENA - 2a PARTE

. CAROLINA (OFF)
Sua voz, seus olhos, suas mãos, seus lábios. Nossos silêncios, nossas palavras. A luz que vai e a luz que volta. Você insiste em descrever, delimitar, dar um lugar, uma fronteira, mas qualquer coisa que eu sinta é diferente disso que você traduz. E eu... Nem sei... Não sou... Não sou o limite entre nós dois, meu amor fica no mesmo lugar que você incita tal fronteira. Longe, longe, você se retira, declara seu amor como quem declara propriedade. Perto, perto, meu amor se mistura, sem palavras. Estou inteira... Você está até os pontos, até as reticências do seu texto todo. Suas palavras secam, fica a carcaça. Não me dei nas suas frases de amor, na sua retórica. Você ama em um embate, uma luta. O coração tem uma só boca. Tudo lançado à sorte, palavras se pensar. Os sentimentos à deriva. Tanto faz se sou eu, Moreau ou Bardot. Tanto faz, no fim, quando você está só. Quando é cinema. Meu amor vaza pela rua, entra no esgoto, suja a sua bota. Não sabe nada, nem é. Meu amor está presente, evapora. Sem histórias, sem forma. Você se arrasta pela cidade, com uma caneta e mil discursos de amor. No fim da tarde, nenhum beijo. Você só ama a sua vaidade, a sua política, sua aventura. Seu amor é velho. Viciado. Seu amor é uma ilusão. Meu amor só é.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

REGISTRO DE VIAGEM - CAMPO DE VISÃO / FOTOS

Personagens


Fotos: Camila Maluhy




Fotos: Mariana de Mello




Fotos: Paulo Chiarella Scharlach

sábado, 15 de agosto de 2009

TRILHA SONORA: ZAMBA "PIEDRA Y CAMINO", de Atahualpa Yupanqui



"Piedra y Camino", interpretado por Mercedes Sosa.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

ATORES / PERSONAGENS 2a PARTE:

ASTOR:



(Ator: Tomás Rosa Bueno)


CAROLINA:



(Atriz: Carolina Castanho)

REGISTRO DE VIAGEM - CAMPO DE VISÃO

Essas estradas molhadas, o pára-brisa. A continuidade. As fotos de Amanda Amaral (Assistente de Direção das 2 primeiras partes do projeto) evidenciam um certo olhar, um campo de visão bastante diferente dos registros apresentados anteriormente. Além da relação ser/espaço, objeto/memória, ela consegue através da montagem expor um dos conceitos fundamentais do projeto: a intertextualidade. Dá a liberdade de olhar uma ação enquanto, ao mesmo tempo, outra acontece (ao lado, à quilometros de distância). Uma fala da outra de maneira recíproca, uma faz referência à outra e jamais poderiam existir sozinhas. O valor de uma imagem é dado não pelas suas características individuais, isoladas (a referência centralizada em si), mas sim por aquilo que o antecede e aquilo que o sucede.




FOTOS E MONTAGEM: AMANDA AMARAL

quinta-feira, 13 de agosto de 2009



"Limite" (1921), Mário Peixoto


O filme de Mário Peixoto (considerado por muitos a obra máxima do cinema brasileiro) nos apresenta uma maneira de enxergar o mundo muito moderna. Apesar da data em que foi concebido, 1921, o filme é pioneiro na linguagem usada hoje na vídeo-arte e no cinema experimental contemporâneo. O filme reflete muito mais pela sensitividade que pela racionalidade, ele indica coisas ao invés de apenas mostrá-las como elas são. A linha narrativa vem em segundo plano, serve para ilustrar um olhar, uma maneira de perceber o entorno. Quando a mulher anda pela cidade, a sua relação com o espaço é marcada por uma percepção puramente audiovisual. A câmera mesmo é um órgão vivo, que persegue os personagens pelo campo, menos que uma instância onipresente que acompanha suas ações sensório-motoras. Tem, por isso, uma certa ambiguidade que só pode ser encontrada anos depois com o neo-realismo italiano e levado ao extremo com as paisagens humanas de Antonioni.

REGISTRO DE VIAGEM - CAMPO DE VISÃO / FOTOS












FOTOS: HELENA WOLFENSON (CHAPADA / 2009)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

SOBRE O CHOQUE ENTRE GERAÇÕES:

Existe uma relação entre o antes e o depois que os desloca e os põe no lugar do outro. Isso cria o Afeto: a relação pela repetição. O Afeto prescede o aqui e o agora, se dá pela repetição da história em tempos e espaços distintos. É ir do trágico ao cômico.

REGISTRO DE VIAGEM - CAMPO DE VISÃO / FOTOS

Relação corpo-espaço-corpo
luz-enquadre

Foto: Camila Maluhy



Fotos: Mariana de Mello



Fotos: Lorena Pazzanese